Uma velha amiga

É de noite e me pergunto como estaria se não estivesse tão só. Sempre relutei em falar sobre solidão, sobre a minha solidão, pois assim que damos nome à algo ele se torna real, mas se sentir vazia, mesmo com um turbilhão de sentimentos dentro de mim sempre fora real e na calada da noite ela vai chegando perto de mim, como uma velha amiga e tenta me acolher em seus braços.

A pior parte de estar só é estar acompanhada, acompanhada dos sentimentos mais horríveis que se pode ter. A solidão sempre se mostra como uma amiga, em forma de uma saudade, um amor, uma tristeza, uma decepção, qualquer coisa que me tire a sanidade, que me faça ver cada vez a escuridão e esquecer o quão a luz é acolhedora.

A noite mal chega e já me sinto afogada de sentimentos e pensamentos que me deixam cansadas, que me tiram o sono. Eu não sei quando tudo isso começou, só me lembro de estar olhando a janela de madrugada sentindo vontade de chorar e me sentindo sozinha quando ela chegou como quem não quer nada e trouxe o inverno para meu coração, para minha alma.

Eu me viciei na maldita, pois a minha solidão é confortável, ninguém nunca poderá ir até lá me machucar e é só com ela que posso me mostrar como sou, sem julgamentos ou mentiras. Mas dói pensar que não tem ninguém ao meu lado quando preciso, eu preciso de calor e ela não pode me dar isso.

O sol está nascendo enquanto termino de enxugar minhas lágrimas, os raios começam a entrar e toca a minha pele, mostrando que está disposto a me tudo o que eu preciso e devolve as minhas esperanças.   

Ela se foi. Ela sempre me deixa quando o céu está ganhando cor, quando a noite que antes era cinzenta e sem esperança dá espaço para que eu possa mudar todos os meus sentimentos, pois sempre existirá a possibilidade de colorir a vida a cada amanhecer. Mas ela irá voltar, ela sempre volta.